quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Inatista

Perdoam-me os empiristas, mas eu sou inatista.  Contrariando toda a empiria: nada existe de verdadeiro nos sentidos se não tiver passado primeiro no intelecto. Não é o corpo que pensa, mas a mente; é esta que quando não reflete faz o outro padecer. As experiências são válidas apenas a nível pessoal, prático, de senso comum; mas é no pensamento bem trabalhado e organizado que acontece o método seguro e o infinito de possibilidades.
Não sou contra os sentidos; mas eles são apenas objetos ideados e comandados pelo sujeito da razão. É no mundo das ideias que as coisas, embora subjetivas, se tornam mais concretas, duradouras e mais próximas do universal. Não é o corpo que duvida, é a mente. Tudo passa antes pela fôrma racional, até mesmo o sabor acre de uma fruta que se degusta, ou um aroma doce de um perfume que se inspira, ou ainda um som grave da voz agradável que se ouve, e o sentido suave na mão daquele que sua visão não é capaz de assistir. É na mente que todo o real e imaginário se reproduzem. É ela que faz o corpo sentir.
Quando eu agia movida pelo “eu sinto” com os meus cinco sentidos, errava mais, por deixar as ações em desequilíbrio. Hoje movida pelo cogito de Descartes, eu penso, duvido, pergunto, questiono, interiorizo; recolho-me, exteriorizo, mesmo que depois eu extravase, antes penso se vale; se “penso, logo existo”. Sei, então, que posso controlar qualquer um dos meus instintos. Não que eu tenha perdido minhas sensibilidades, ainda guardo em mim um quê de sensível;  apenas sei que é simples o complicado,  é na razão que está a felicidade e onde tudo começa a fazer maior sentido.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Elegância

Atualmente, nossa sociedade convive com os avanços tecnológicos e a imposição da indústria cultural, a qual propicia a “coisificação” dos indivíduos. As relações humanas, que eram baseadas em gestos simples de afinidades, passaram a ter qualificação artificial, voltadas para os valores materiais. Antes, por exemplo, uma pessoa buscava no convívio de outra pessoa o prazer da companhia, a conversa gostosa, o olho no olho, a alegria de estar perto, o divertimento em si; hoje, muitas das vezes, procuram-se as pessoas pelo status que elas podem proporcionar; os relacionamentos se dão de acordo com o estilo de vestir, o marca do vinho ou da cerveja, o poder do cartão de crédito etc, e não pela pessoa em si; cada um tem um preço. Você tornou-se o que come, bebe, usa. E deixou de ser o que a sua mente pensa e seu peito pulsa. É a coisa, qualquer que seja a coisa, em detrimento do espírito.
Diante disto, fiquei imaginando sobre o sentido que passou a ter a palavra elegância e o que seria de fato ser uma pessoa elegante.

“A palavra elegante vem do latim elegans e significa quem sabe escolher, de bom gosto, distinto.
Elegância, do latim elegantia e significa gosto, delicadeza, distinção.
1ª definição – Gosto delicado no trajar, no falar, no adorno da casa.


2ª definição – Graça, airosidade, delicadeza e distinção aliada à simplicidade e clareza.”
Não escrevo para criar estereotipos, nem promover preconceitos; muito menos parecer dona da verdade irrefutável, mas para criar uma dialética reflexiva com meu interlocutor. Por isso, desenvolvi uma lista de algumas atitudes elegantes e não elegantes; são tantas, que ficaria muito cansativo colocar tudo aqui.
Elegância tem a ver com cordialidade, solidariedade, cortesia.
É elegante:
1 dar bom dia, não é preciso ignorar uma pessoa só porque não se tem afinidades com ela;
2 Falar baixo, pois querer ganhar tudo no grito é vulgaridade;
3 O silêncio; verdade em excesso é falta de polidez;
4 ouvir, o importante não é falar pouco e não falar junto, mas se esforçar para conseguir compreender a mensagem do outro.
5 discrição no vestuário, porque roupas extravagantes, maquiagens exageradas são muito de mau gosto; a mulher não precisa parecer uma árvore de natal para mostrar a beldade, a naturalidade e o conforto ao se vestir  que a torna interessantemente elegante;
6 ser cordial com o garçom; pessoas que pensam que podem maltratá-lo só porque vão pagar a conta são muitos desgraciosas;
7 Cuidar da natureza; jogar lixo pelas janelas de veículos em movimento, como latas de refrigerantes, além de ser falta de nobreza, pode causar acidentes;
8 procurar viver com bom humor, ninguém consegue permanecer muito tempo ao  lado de alguém costumeiramente carrancudo(a);
9 reconhecer os erros, além de humildade, é um gesto nobre, que só pessoas de gostos delicados possuem;
10 cooperar; pessoas intransigentes são muito desagradáveis, propensas a causar mal estar.
É muito elegante: esperar a sua vez, dar lugar no coletivo para idosos e mulheres grávidas, andar com serenidade, agradecer, pedir “por favor”, pedir licença, desculpar-se, perdoar, não se meter na vida alheia sem ser convidado(a), ter paciência, não julgar, buscar conhecer, respeitar, é, simplesmente, sorrir.
É a gentileza, a tão falada gentileza, ela é uma das coisas mais honradas que existe; estar na companhia de alguém que sabe ser amável naturalmente é agradabilíssimo; mesmo porque ninguém consegue brigar sozinho, só se for muito louco(a). Um gesto gentil supera toda aspereza.
Odiar é muito deselegante; ninguém é obrigado a morrer de amores por ninguém, mas a neutralidade é delicada;
Ser elegante, porém, é uma atitude serena diante do mundo da vida. É saber entender que a linguagem é humana, que o homem não é “coisa”, mas um ser que sente, cria, dinamiza a cultura e controla a natureza, o único animal capaz de domar os próprios instintos.
Elegância é viver com coerência, é saber chegar e aparecer, é não exagerar e ser intensa, é saber sair sem criar clichês, é deixar mesmo saudades na falta de comparência, é ser a paz sem fazer força dentro de uma guerra, é amar alguém sem que esse alguém saiba, é praticar um bem sem fazer carnaval; é perceber a hora certa de sair de cena. É qualidade de quem possui boa educação.
 Você é nada mais e além daquilo que idealiza e o conjunto dos hábitos que exercita.

Cris Calheiros

domingo, 13 de novembro de 2011

Permita-me, poeta

Permita-me beijar-te, poeta;
Oscularei as ruas curtas e estreitas; acolhedoras de tuas coisas imaginadas;
Descerrando as portas que guardam o teu mundo de invenções;
Como aragem inspiradora;
Tocarei nas linhas dos teus versos.

Permita-me, poeta, adoçar as tuas rimas;
Executarei as melodias de tuas melífluas palavras;
Oscilando por formas e modos que completam os teus verbos,
Tornar-me-ei a abundância criativa que te difere de outras mentes.
 
Toma-me nos braços abastados de tua lingüística, poeta;
Duelarei nos intervalos das tuas linhas bem escritas;
Ressonando os caminhos que nascem teus adjetivos;
Eternizada na omissão daquilo que não queres dizer;
Descansarei nas tuas rimas.
 
Possua-me, poeta;
Na escuridão indecisa dos teus pensamentos;
Avivarei os trajetos sinuosos dos teus caprichos fantasiosos;
Modularei as tuas metáforas;
Completarei tuas metonímias;
Cadenciarei teus eufemismos;
Serei tua eterna redundância.
 
Permita-me ser tua musa, poeta;
Cantarei em teus vôos psíquicos;
Como pássaro colossal;
De canto hipnótico;
Elevarei teu pensamento a mundos desconhecidos;
Até que tuas mãos dêem às minhas vontades, incentivadas por teus desejos literários, um ponto final.