Atualmente, nossa sociedade convive com os avanços tecnológicos e a imposição da indústria cultural, a qual propicia a “coisificação” dos indivíduos. As relações humanas, que eram baseadas em gestos simples de afinidades, passaram a ter qualificação artificial, voltadas para os valores materiais. Antes, por exemplo, uma pessoa buscava no convívio de outra pessoa o prazer da companhia, a conversa gostosa, o olho no olho, a alegria de estar perto, o divertimento em si; hoje, muitas das vezes, procuram-se as pessoas pelo status que elas podem proporcionar; os relacionamentos se dão de acordo com o estilo de vestir, o marca do vinho ou da cerveja, o poder do cartão de crédito etc, e não pela pessoa em si; cada um tem um preço. Você tornou-se o que come, bebe, usa. E deixou de ser o que a sua mente pensa e seu peito pulsa. É a coisa, qualquer que seja a coisa, em detrimento do espírito.
Diante disto, fiquei imaginando sobre o sentido que passou a ter a palavra elegância e o que seria de fato ser uma pessoa elegante.
“A palavra elegante vem do latim elegans e significa quem sabe escolher, de bom gosto, distinto.
Elegância, do latim elegantia e significa gosto, delicadeza, distinção.
1ª definição – Gosto delicado no trajar, no falar, no adorno da casa.
2ª definição – Graça, airosidade, delicadeza e distinção aliada à simplicidade e clareza.”
Não escrevo para criar estereotipos, nem promover preconceitos; muito menos parecer dona da verdade irrefutável, mas para criar uma dialética reflexiva com meu interlocutor. Por isso, desenvolvi uma lista de algumas atitudes elegantes e não elegantes; são tantas, que ficaria muito cansativo colocar tudo aqui.
Elegância tem a ver com cordialidade, solidariedade, cortesia.
É elegante:
1 dar bom dia, não é preciso ignorar uma pessoa só porque não se tem afinidades com ela;
2 Falar baixo, pois querer ganhar tudo no grito é vulgaridade;
3 O silêncio; verdade em excesso é falta de polidez;
4 ouvir, o importante não é falar pouco e não falar junto, mas se esforçar para conseguir compreender a mensagem do outro.
5 discrição no vestuário, porque roupas extravagantes, maquiagens exageradas são muito de mau gosto; a mulher não precisa parecer uma árvore de natal para mostrar a beldade, a naturalidade e o conforto ao se vestir que a torna interessantemente elegante;
6 ser cordial com o garçom; pessoas que pensam que podem maltratá-lo só porque vão pagar a conta são muitos desgraciosas;
7 Cuidar da natureza; jogar lixo pelas janelas de veículos em movimento, como latas de refrigerantes, além de ser falta de nobreza, pode causar acidentes;
8 procurar viver com bom humor, ninguém consegue permanecer muito tempo ao lado de alguém costumeiramente carrancudo(a);
9 reconhecer os erros, além de humildade, é um gesto nobre, que só pessoas de gostos delicados possuem;
10 cooperar; pessoas intransigentes são muito desagradáveis, propensas a causar mal estar.
É muito elegante: esperar a sua vez, dar lugar no coletivo para idosos e mulheres grávidas, andar com serenidade, agradecer, pedir “por favor”, pedir licença, desculpar-se, perdoar, não se meter na vida alheia sem ser convidado(a), ter paciência, não julgar, buscar conhecer, respeitar, é, simplesmente, sorrir.
É a gentileza, a tão falada gentileza, ela é uma das coisas mais honradas que existe; estar na companhia de alguém que sabe ser amável naturalmente é agradabilíssimo; mesmo porque ninguém consegue brigar sozinho, só se for muito louco(a). Um gesto gentil supera toda aspereza.
Odiar é muito deselegante; ninguém é obrigado a morrer de amores por ninguém, mas a neutralidade é delicada;
Ser elegante, porém, é uma atitude serena diante do mundo da vida. É saber entender que a linguagem é humana, que o homem não é “coisa”, mas um ser que sente, cria, dinamiza a cultura e controla a natureza, o único animal capaz de domar os próprios instintos.
Elegância é viver com coerência, é saber chegar e aparecer, é não exagerar e ser intensa, é saber sair sem criar clichês, é deixar mesmo saudades na falta de comparência, é ser a paz sem fazer força dentro de uma guerra, é amar alguém sem que esse alguém saiba, é praticar um bem sem fazer carnaval; é perceber a hora certa de sair de cena. É qualidade de quem possui boa educação.
Você é nada mais e além daquilo que idealiza e o conjunto dos hábitos que exercita.
Cris Calheiros