Desde os primórdios tempos a escola deixou de assumir a responsabilidade abarcada no momento de sua criação. O modelo escolástico de hoje ainda se baseia no modelo jesuítico em vários aspectos, as turmas sentadas em fileira, por exemplo. Foram com os jesuítas que surgiram as primeiras propostas de educação no Brasil; a de educação coletiva, catequização, formação cultural e moral dos cidadãos – que, naquela época, eram índios e filhos de colonos; a ética, direitos e deveres, valores e noções básicas de família etc. Daí por diante, todas as reformas educacionais tiveram pouco êxito e as muitas falhas perpetuam-se até a atualidade.
Educar o aluno para a cidadania era o projeto principal do primeiro modelo de escola. No princípio, esta ação teve desempenho feliz e completo; atualmente, as escolas não têm sabido como fazer isso.
Dividir as tarefas é caminho, claro! A tripartição participativa entre pais – alunos- escola é primordial, o problema está na maneira pela qual apresentam. O pouco tempo dos pais com os filhos, devido à necessidade dos pais trabalharem está sendo usado como justificativa para a falta de preparo dos profissionais que agrupam as instituições de educação. Outro erro grave é argumentar que antigamente as mães não trabalhavam e sobrava-lhes tempo suficiente para passar para os filhos noções de moral e valores, e hoje, como muitas trabalham e ficam pouco tempo com seus filhos, suprem suas ausências com a omissão sobre o que é certo e errado. Atribuir isto como causa da rebeldia de nossos jovens é regredir no tempo e desculpa para não agir na causa real. Antigamente, os valores eram outros; hoje, aconteceram grandes evoluções e algumas das maiores delas foram as descobertas de transtornos psicológicos que acometem crianças e adolescentes, que antes, eram julgadas como falta de educação.
As inversões de valores não estão ligadas diretamente aos pais, mas ao todo de uma sociedade perdida... Ninguém mais consegue entrar num acordo sobre o que é certo e o que é errado. Inventam leis sem razões para existirem; e algumas delas até burlam nossos direitos básicos garantidos pela lei natural da vida...
E qual o papel da escola, afinal? Qual o papel dos pais?
Pai e mãe não estudaram para serem pai e mãe, agem de acordo com o amor disponibilizado a ser doado aos filhos e com o instinto. Muitos pais até erram por omissão; outros erram por excesso. Muitos erram por ignorância, e acabam sendo limitados demais. Pai e mãe devem educar, alimentar, vestir, cuidar da saúde física e mental dos filhos, sustentá-los, orientá-los para poderem saber como respeitarem o direito alheio, matricular em uma escola, vigiar mesmo sendo de longe etc. Mas e os filhos que não possuem pais? E os pais que são analfabetos? Como estes vão conseguir obedecer à orientação dada hoje pelas escolas sobre ensinar o dever de casa aos filhos? Coloca em uma explicadora, então! Mas, se os pais não puderem colocar em uma explicadora?...
Mas e a escola? Qual o papel da escola? Em que momento ela entra em ação? A escola tem a obrigação de formar bem seus alunos, pois seus profissionais estudaram para isso. Mas, ainda hoje, com tantas descobertas, as escolas vêm promovendo a desordem e muitas dúvidas.
Outro dia, em uma reunião de turma da escola de minha filha, percebi o fracasso da educação no Brasil, toda desestruturação, falta de clareza nos propósitos. A diretora promoveu uma reunião com pais e alunos de uma turma de adolescentes. Já começou muito mal quando ela iniciou a reunião pedindo socorro aos pais; diretora de escola que chega a fazer este barulho por nada deve amassar o diploma. Então, ela alegou que aquela turma estava levando tudo na brincadeira, até aí tudo bem! Mas prosseguiu através de um diálogo desconexo, cheio de contradições e “disse-me-disse”. Conforme ela ia falando, eu apavorava o pensamento, pensei: “_ Nossa! Só tem coisa ruim aqui!” E argumentei: “_ Como a escola deixou chegar a este ponto, não cortou o mal pela raiz?” Depois seguiu o discurso constrangendo uma aluna indiretamente, colocando em questão uma situação na qual não deveria ser nem falada. A aluna havia usado uma expressão inadequada dentro da turma, nada demais, mas para a diretora foi o fim do mundo; ela citou o acontecido, mas invertendo o contexto; as mães não sabiam quem era, mas saberiam depois, pois os alunos falariam. Algo que a mãe deveria ser chamada em particular e não foi. Fora as promessas feitas aos alunos descumpridas, ameaças, terror psicológico, intimidação, coação, abuso de autoridade, e mentiras por parte da escola. Comecei a perceber que os alunos estavam com razão.
A tal escola, rígida, criou normas, através da despreparada diretora, onde a intenção não está voltada para a boa convivência social, mas para a criação de cidadãos hiper competitivos, robotizados e sem liberdade de expressão. Rir não pode; olhar ao lado nem pensar; chamar o coleguinha de meu amor é falta de respeito, abraçar, beijar, demonstrar afeto é sacanagem e não concordar com regras injustas é suspensão. Alguém está roubando na escola, coisas somem das mochilas misteriosamente, isto sim é caso sério, sumiram todas as canetas do estojo de alguns alunos, como não estão tendo a capacidade de descobrir o ladrão, a culpa caiu sobre a turma toda, estigmatizando-os como marginais. E se o ladrão estiver fora da turma? Complicado, não?!
Outro fato intrigante foi a diretora incluir uma aluna como o pivô de todas as bagunças por portar na mochila um ursinho de pelúcia. Tudo bem que é algo um pouco diferente para um adolescente, mas não é motivo para tumulto. A Justificativa da diretora foi: “_ O ursinho virou bola no intervalo, os alunos estavam jogando jogo do ursinho, isto é proibido, se ela não tivesse trazido o ursinho nada disso teria acontecido.” Ao ouvir tal absurdo, pasmei; ursinho agora é sinônimo de coisa do mal. “Nada disso teria acontecido”? O que significa nada disso? Por que tanto alarde acerca de um ursinho? Sinceramente, não entendi. Que bom ter sido um ursinho! Em outros estabelecimentos os alunos estão brincando de mata mata e tem gente morrendo de verdade, sabe por quê? A intolerância como esta do ursinho; as escolas estão preocupadas apenas com a didática e esquecem de pregar amor.
E o que dizer sobre as notas baixas? Unânimes e desesperadas; a turma inteira vermelhou. Adivinha quem a escola condenou? Alunos e pais. Os professores não conseguem ter clareza e a culpa não é deles? Estranho isso! Se fosse meia dúzia já seria esquisito, ainda que fosse meia dúzia teria algo errado com a meia dúzia e quem leciona; mas sendo a turma toda o erro é de quem? Onde está a falha?
Antes do indivíduo formar família ele é educado por uma família, mas deve ser formado por uma escola, onde deve acontecer de fato a noção e ação de socialidade e sociedade; porém a escola vem deformando alunos. O que adianta eu dizer aos meus filhos : “Sorria mesmo que não te agrade o dia, Cumprimente e dê bom dia, ainda que o teu amiguinho te feche a cara! Ouça teu próximo e respeite teu diferente! Use sempre a empatia!” se quando ao chegar à escola, todas as ações que eu ensinei são deturpadas pela instituição?
As escolas precisam estar atualizadas, necessitam se preparar para atenderem a demanda, promover a inclusão, investirem nos outros tipos de inteligências que não as matérias básicas, reverem as didáticas, adaptarem-se às necessidades dos alunos, principalmente, elas ainda insistem no contrário; as escolas precisam incentivar mais o amor e realizarem mais atividades que promovam a felicidade e menos didáticas. As regras que garantem direitos e deveres devem ser colocadas em prática e obedecidas com certeza. Mas a adaptação do aluno à escola é algo que já foi revisto e provada a necessidade de ser alterado. Um aluno com TDAH, por exemplo, dificilmente conseguirá se enquadrar nos moldes tradicionais, não conseguindo aprender através de textos longos, precisando de atenção diferenciada; na falta do preparo, escolas confundem o TDAH com um aluno desinteressado.
Um aluno portador de discalculia terá sérias dificuldades com a matemática, em ver hora etc; numa situação de despreparo por parte dos profissionais de educação, este aluno pode ser tratado como irônico e debochado. Um disgráfico pode ser confundido e tratado como desorganizado. Um dislexo, ainda hoje, é tratado pela maioria das escolas como burro, incapaz e preguiçoso.
Dentre estes tipos de transtornos, existem outros tantos e cabe a escola identificar, não aos pais, após a desconfiança informar aos pais ou responsável, então, encaminhar, por escrito, aos cuidados de um especialista, para possível diagnóstico e adequado tratamento. Só assim, haverá melhoras na educação.
A desculpa que os adultos de hoje usam é: “Na minha época, apanhava dos meus pais e não morri” Mas muitos destes adultos trazem problemas de transtornos, os quais não foram diagnosticados e tratados e hoje se tornaram os responsáveis e educadores dos nossos jovens, responsáveis e educadores perdidos, sem saberem o que fazer, porque teimam em colocar a culpa na ausência dos pais; por isso, para que tenhamos um futuro melhor com adultos e jovens saudáveis mentalmente, é preciso que se faça um trabalho completo acerca dessas causas. Só assim, evitaremos os catastróficos efeitos.
Então eu deixo a pergunta às escolas, professores, coordenadores, diretores etc: Que tipo de cidadãos vocês desejam formar? Que tipo de sociedade vocês desejam para o futuro?
Então eu deixo a pergunta às escolas, professores, coordenadores, diretores etc: Que tipo de cidadãos vocês desejam formar? Que tipo de sociedade vocês desejam para o futuro?
Cristiane Calheiros